quarta-feira, 20 de maio de 2009

Fabulário Cotidiano do Delírio Geral

Costumavam beber juntos e era só o que faziam. Ela abria mão do que lhe sobrava de decência, enquanto ele guardava um pouco pro caso de precisar. Não o suficiente pra evitar algum vexame, mas pra que de quando em vez, tivesse plena noção de seu estado patético. Fazia tempo que eram casados e o motivo, olhando de fora não dava pra dizer. Mas às custas de muitas festas e companhias constantes arrastaram uma união faltosa por vinte anos. Até o dia em que ela resolveu ir embora com um homem mais baixo, mais gordo,mais feio, mais pobre e naturalmente, mais parecido com ela. Sem chão, ele chamou sete putas. Todas loiras. Colocou uma música da moda, chamou-as pra dançar e comentou, quase naturalmente, que casamento era pra gente fraca. Cozinhou pra elas, falou dos negócios da firma, e pediu a mais moça que ficasse pra dormir. Não aceitou e as quatro em ponto foram todas embora, como fora combinando. Ele acordou no sofá da sala e com a cabeça doendo pela repetição impiedosa de imagens desfocadas, foi até a cozinha e buscou um copo d´água. Entrou no quarto com mais esperança que certeza de que na cama encontraria a mulher dormindo. Não a encontrou, nem nesse dia e nem no outro. Mesmo assim, o fez por cerca de um mês. Sete putas, música, noite no sofá e de manhã a esperança de que o pesadelo teria acabado. Mas não acabou até o dia em que admitiu que qualquer coisa deixa de ser impossível no momento em que acontece. E que não cabe ficar incrédulo por mais de alguns instantes. Então, voltou a pedir a mais moça que ficasse, mas dessa vez, pra sempre, pois que seja com uma profissional.